Para descobrir uma doença, e tomar os medicamentos necessários para combatê-la, é preciso uma análise criteriosa (Raios X, exames clínicos, anamnese, etc) do corpo ou da área problemática em questão. O mesmo se aplica à descoberta de como está o desempenho financeiro de uma determinada empresa. Neste caso, a ação a ser realizada é a análise do balanço patrimonial (ou contábil), metodologia milenar que hoje é regida por normas internacionais.
Em entrevista por e-mail ao Boletim do Empresário, o professor José Roberto Kassai, da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), da USP (Universidade de São Paulo), afirma que o balanço patrimonial é um dos relatórios principais nas empresas. “Ele representa uma 'fotografia' da empresa em um dado momento, como um 'exame clínico'. A entidade pode avaliar a sua situação global, os resultados das suas decisões e ações tomadas, bem como novas ações para garantir a continuidade”, garante.
A mesma importância do balanço patrimonial é apontada pelo contador e auditor Irineu De Mula, da Pricewaterhouse Coopers, em entrevista por e-mail ao Boletim do Empresário. Para ele, o balanço é o mais importante meio de comunicação dos efeitos e resultados das ações dos gestores das empresas e, como parte do conjunto das Demonstrações Contábeis, destina-se a fornecer importantes informações aos sócios e acionistas, bem como aos demais usuários, sejam investidores (financiadores), empregados, credores, fornecedores, governo, clientes, dentre outros.
“As demonstrações contábeis têm o objetivo de fornecer todas as informações possíveis sobre a posição patrimonial e financeira da entidade”, diz De Mula. A apuração das demonstrações contábeis para fins gerenciais deve ser feita mensalmente e preparada de acordo com a Estrutura Conceitual Básica e levar em conta, ainda, as Normas Brasileiras de Contabilidade emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade. Já as comunicações solicitadas por usuários externos devem ser feitas trimestralmente como requer a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) às empresas de capital aberto.
Atualmente, a contabilidade segue padrões internacionais após a decisão do Brasil em adotar as normas do IFRS (International Financial Reporting Standards) e da Lei 6404, alterada pela Lei 11638. Hoje, quem não utilizar o balanço contábil, além de não cumprir com a exigência legal, também estará desprovido de um sistema gerencial adequado para a gestão empresarial. Ainda, segundo De Mula, a falta de transparência se traduz também em dúvidas aos que mantêm qualquer vínculo comercial ou de negócio com a empresa. “Os reflexos mais conhecidos desses prejuízos estão nos custos de captação e de obtenção de crédito, devido a maior exposição a riscos”, finaliza.
História e futuro
Confúcio, filósofo chinês, também teria sido contador. A contabilidade é uma metodologia milenar. Ela é tão antiga quanto a história do Homem, afirma o professor Kassai. Os povos sumérios já adotavam escritas e registros contábeis. As escolas européias predominaram por bom tempo, mas atualmente a escola americana exerce predominância. “Mas acredito que, citando o exemplo das crises atuais na área financeira, ambiental e social, o Século XXI irá exigir uma nova metodologia que contemple a mensuração não apenas dos aspectos monetários (dinheiro), mas também de outras variáveis como: pessoas, conhecimento, tecnologia e meio ambiente”, afirma.
CPC - Comitê de Pronunciamentos Contábeis
Face às dúvidas de empresas e auditores sobre como preparar as demonstrações contábeis de 2008, em função das alterações da Lei 11638, o CPC divulgou a Orientação OCPC 02 - Esclarecimento sobre as Demons-trações Contábeis de 2008, no intuito de dar transparência e esclarecimento sobre os Pronunciamentos Técnicos emitidos até o momento. Saiba mais acessando o site www.cpc.org.br.
A importância do balanço não apenas para empresas, mas para países e nações
O professor Kassai apresentou, em outubro de 2008, um trabalho na Câmara Americana (Amcham do Brasil), em palestra conjunta com o ministro Roberto Mangabeira Unger. No estudo, Kassai e demais pesquisadores, abordam a importância do balanço não apenas para empresas, mas para países e nações. “Tivemos a oportunidade de elaborar os balanços contábeis de sete países (Brasil, Rússia, Índia, China, Estados Unidos, Japão e Alemanha) com base nos cenários de mudanças climáticas, emissões de CO2, de acordo com as previsões do IPCC (Intergovernamental Panel on Climate Change), da ONU (Organização das Nações Unidas)”, diz.
Os resultados da pesquisa mostram que os cidadãos dos países mais desenvolvidos, e que no início deste século apresentaram maior consumo de energia e maiores PIB (Produto Interno Bruto) per capita, estariam consumindo recursos não apenas de outras nações, mas também de gerações futuras, ao contrário dos países de baixíssimo consumo de energia, que têm altas taxas de mortalidade infantil, analfabetismo e fertilidade. O balanço consolidado aponta para uma situação deficitária ou falimentar, com “passivo a descoberto” equivalente a US$ 2,3 mil anuais para cada um dos atuais 6,6 bilhões de habitantes e um passivo ambiental equivalente a um quarto do PIB mundial.
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