A revolução industrial transformou a vida das pessoas gerando acesso à grande variedade de produtos, novas formas de produção e geração de energia, meios de transporte etc. Recentemente a internet revolucionou o acesso à informação e o modo de relacionamento entre as pessoas. A incorporação da digitalização à atividade industrial é um processo cada vez mais presente e tem o potencial de revolucionar novamente o nosso cotidiano.
A edição de 2011 da Feira de Hannover trouxe o conceito da Indústria 4.0 que engloba as principais inovações tecnológicas dos campos de automação, controle e tecnologia da informação, onde os processos tendem a se tornar cada vez mais eficientes, autônomos e customizáveis. O emprego da internet é o ponto comum entre todas essas tecnologias. Tais conceitos podem ser encontrados no livro cuja tradução no Brasil tem o título de “A Quarta Revolução Industrial” de Klaus Schwab, Edipro, 2015.
Seu fundamento básico implica na adoção gradual de um conjunto de tecnologias emergentes, conexão de máquina, sistemas e ativos criando redes inteligentes ao longo de toda a cadeia de valor que podem controlar os módulos de forma autônoma. A quarta revolução industrial está criando fábricas inteligentes com a capacidade e autonomia de agendar manutenção, prever falhas nos processos e se adaptar aos requisitos e mudanças não planejadas na produção.
Existem alguns princípios que definem os sistemas de produção inteligentes que tendem a surgir nos próximos anos:
▪ Capacidade de operar em tempo real – com a aquisição e tratamento de dados de forma praticamente instantânea, permitindo a tomada de decisões em tempo real;
▪ Virtualização – propõe a existência de uma cópia virtual das fábricas inteligentes, permitindo a rastreabilidade e monitoramento remoto de todos os processos por meio dos inúmeros sensores espalhados ao longo da planta;
▪ Descentralização – com tomada de decisões feita pelo sistema de acordo com as necessidades da produção em tempo real, podendo receber comandos e fornecer informações sobre seu ciclo de trabalho;
▪ Orientação a serviços – utilização de arquiteturas de software orientadas a serviços aliado ao conceito de Internet of Services;
▪ Modularidade – produção de acordo com a demanda, acoplamento e desacoplamento de módulos na produção, oferecendo flexibilidade para alterar as tarefas das máquinas facilmente.
Tecnologias
A indústria 4.0 é uma realidade que se torna possível devido aos avanços tecnológicos aliados a tecnologia da informação e engenharia, sendo as mais relevantes:
▪ Internet das coisas (Internet of Things – IoT) – conexão em rede de objetos físicos, ambientes, veículos e máquinas por meio de dispositivos eletrônicos que permitem a coleta e troca de dados;
▪ Big data analytics – com estruturas de dados muito extensas e complexas que utilizam novas abordagens para a captura, análise e gerenciamento de informações relevantes, que consistem em 6Cs: conexão, cloud, cyber, conteúdo, comunidade e customização;
▪ Segurança – um dos desafios da quarta revolução industrial está na segurança e robustez dos sistemas de informação, com sistemas que protejam know-how da companhia contido nos arquivos de controle dos processos.
Gigantes globais, universidades e institutos de pesquisas trabalham para vencer desafios técnicos de segurança e criação de padrões e referências para a interoperabilidade entre máquinas e dispositivos.
No Brasil
Um dos maiores impactos está na criação de novos modelos de negócios, customização em massa do produto, encurtamento dos prazos de lançamentos de novos produtos no mercado, maior competitividade dentre outros fatores.
Para acelerar esse processo e fomentar colaboração entre os participantes dessa comunidade foi criado em 2014, nos Estados Unidos, o consórcio de Internet Industrial (IIC). Buscando inserir o Brasil neste contexto e inspirados no modelo do IIC, em 2016, foi fundada a Associação Brasileira de Internet Industrial (ABII), visando divulgar e fortalecer a internet industrial no Brasil e criar um fórum permanente de discussões, além do intercambio tecnológico e de negócios com parceiros internacionais (www.abii.com.br).
O conceito entre os especialistas é de que a indústria brasileira ainda está em grande parte na transição do que seria a Indústria 2.0 caracterizada pela utilização de linhas de montagem e energia elétrica para Indústria 3.0 que aplica automação por meio da eletrônica, robótica e programação. A defasagem é grande.
A boa notícia é que não precisamos passar por todo o processo de modernização fabril ocorrido nos países desenvolvidos. Podemos e devemos pular etapas. Se quisermos preservar a indústria brasileira e prepará-la para esse novo panorama competitivo não poderemos ignorar a quarta revolução industrial. A nossa conjuntura marcada por esta severa crise econômica e política torna esse desafio ainda mais difícil para o nosso país. Precisamos de lideranças fortes e articuladores na indústria, no governo e nas instituições acadêmicas e de pesquisas, e de investimentos relevantes e da capacitação intensiva de gestores, engenheiros, analistas de sistemas e técnicos nessas novas tecnologias, além de parcerias e alianças estratégicas com entidades de outros países. Edição | LAB | 1710.
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