O ano de 2020 foi marcado pela imprevisibilidade e incerteza, motivadas pela chegada da pandemia da Covid-19 e seus reflexos em aspectos diversos na vida de todos, ainda que em medidas e formas diferentes.
Não que isto seja uma exclusividade nossa, tendo em vista que, em ocasiões na história da humanidade, outras situações afins igualmente ocorreram e apresentaram seus reflexos. Resumidamente, alguns destes exemplos contemplam a peste bubônica, a varíola, a cólera, a gripe espanhola e gripe suína (H1N1), que, enfrentadas e superadas, o mundo seguiu adiante, assim como ocorrerá conosco.
É oportuna a afirmação deste entendimento para evitar eventual grau de alienação daqueles que imaginam sermos apenas nós, os escolhidos, em toda a história da humanidade, para o enfrentamento de uma pandemia.
Precisamos entender que o mundo e a história não se resumem ao aqui e agora simplesmente, pois, como tantos, também viveram a sua história, assim como tantos outros que virão viverão as suas.
Todos estes acontecimentos relacionados à Covid-19 e articulados num contexto maior evidenciam a certeza de que vivemos definitivamente cada vez mais num Mundo VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity), que corresponde a uma expressão cunhada há tempos para retratar a volatividade (alta velocidade e intensidade das forças que impulsionam as mudanças), a incerteza (alta imprevisibilidade), a complexidade (quantidade de fatores envolvidos numa situação de decisão) e a ambigüidade (diversos e diferentes pontos de vista para avaliar uma situação), que são aplicadas em contextos aos quais estamos submetidos praticamente em nosso dia-a-dia.
A origem do termo está no universo militar que, na década de 1990, o exército norte-americano começou a usar a sigla Vuca para descrever os cenários e contextos de guerras possíveis de serem enfrentados. Assim era possível fazer planos de contingência para agir de acordo com cada situação. Essa nova realidade também foi descrita em 1992, na sociologia, pelo polonês Zygmunt Bauman, com a “modernidade líquida”. De acordo com Bauman vivemos em uma sociedade em que nada é fixo, tudo é passível de mudar, no entanto, devemos mudar juntos.
Sem dúvida alguma, num Mundo Vuca, articulado num contexto de Covid-19, enfrentamos um verdadeiro tsunami, com desdobramento em esfera econômica, financeira, política, social, tecnológica e ambiental. Neste período, muitas empresas encerraram suas operações, o desemprego aumentou, o endividamento cresceu e voltamos alguns anos atrás na recuperação econômica, social e política do Brasil.
Temas novos foram incorporados ao nosso repertório, como Lockdown, Quarentena Vertical e Quarentena Horizontal. Quanto ao Novo Normal, certamente foram tantas às vezes com que você se deparou a este termo. Na questão de acessórios, as máscaras tornaram-se item indispensável para qualquer pessoa, em toda situação.
As questões de entorno destes fatos ganham cores fortes pelos efeitos mundialmente causados, numa dinâmica de cascata, contemplando nas pessoas o medo da morte e, principalmente, da incerteza quanto a tudo, desde a manutenção de empregos, renda, negócios, enfim, de toda uma cadeia que integra de negócios a gente, não apenas num aspecto local, mas, sim, global.
A nós, no campo do Boletim do Empresário, cabe uma análise do ponto de vista de seus efeitos nos campos profissional e empresarial, efetivamente no que diz respeito à gestão e negócios. Desta forma, lidar com a imprevisibilidade não é prática desconhecida na gestão empresarial, pois a existência de técnicas e métodos permite, há um bom tempo, a construção e simulação de cenários e estratégias de atuação, por exemplo. Isto é parte de quem joga e está acostumado com o jogo do mercado!
Dos ensinamentos obtidos neste período de Mundo Vuca e Covid-19, que ainda continuam a ser construídos, refletindo em nossas vidas, pede-se a cada um que está lendo esta edição do Boletim do Empresário que construa o exercício de olhar para trás, tendo como referência inicial a segunda quinzena de março de 2020, para delimitarmos ao menos um marco, um início do processo do movimento “fique em casa”.
Lembra-se disto? Então vamos lá! Quais as referências você tem desse período? Na época, sua empresa trabalhava sob a perspectiva analógica, analógico-digital ou já operava plenamente no digital? O que aconteceu com você nos aspectos pessoal e profissional, assim como com seus negócios ou na empresa onde trabalha? O Brasil transformou-se no período da Covid-19? E você? E sua empresa? O pior aconteceu? Houve melhoras? Tudo ficou na mesma?
Quais perguntas você acha que deveriam estar presentes nesta discussão? Anote-as, pense, responda e reflita sob este contexto. Tenha disponibilidade para o aprendizado. Uma coisa é certa e precisamos deixar bem claro: ninguém passa por períodos como este sem sofrer algum tipo de transformação interior, ainda que seja para reforçar características comportamentais, boas, negativas ou neutras que se tem.
A partir desta contextualização, entramos numa segunda fase das discussões, direcionando um entendimento a ser formatado sobre este período e respectivas aprendizagens, principalmente no campo da gestão e negócios. Afinal, no contexto do Mundo Vuca e da Covid-19 alguma coisa de diferente você precisou realizar neste período que, certamente, promoveu algum tipo de impacto disto em você e em seus negócios. Parado é que ninguém ficou, não é mesmo? Até porque, se assim você ou sua empresa surpreendentemente comportaram-se, foi uma decisão de grande risco, principalmente por saber que, parado, não se vai ou se chega a lugar algum.
É a partir dos movimentos, decisões e reflexões que se constrói uma gestão do conhecimento e da experiência em relação à combinação do Mundo Vuca com Covid-19 para uso em ocasiões futuras de uma gestão que, certa e constantemente, tende a conviver com a volatilidade, incerteza, complexidade e ambigüidade em seu dia-a-dia. Neste contexto, avalie e reflita o nível de sua conexão, assim como dos seus negócios e da empresa onde trabalha, com cada um dos itens abaixo:
1. Tecnologia embarcada nos processos, principalmente naqueles que dizem respeito às atividades comerciais, compreendendo vendas e relacionamento com clientes;
2. Uso de dados para atividades comerciais, principalmente no tocante à criação de experiências aos clientes;
3. Preocupação com a qualidade de vida, saúde, bem-estar, manutenção e sobrevivência de clientes, funcionários, enfim, dos stakeholders que compõem o público em geral com o qual uma empresa se relaciona;
4. Preocupação com a manutenção dos fornecedores de sua cadeia de abastecimento, evitando-se uma “quebradeira” em quaisquer de seus elos, dado que, sem a operação de algum deles, uma empresa pode não ter condições de produzir e disponibilizar produtos e serviços no mercado, reforçando a ideia da colaboração, conjugando o verbo compor ao invés do impor;
5. Quem precisou ficar de quarentena foi o consumidor, não as marcas;
6. Criação de comitês de crise nas empresas, envolvendo funcionários de diversas áreas para tomada de decisões não com conseqüências à longo prazo, mas, sim, às próximas 24-48 horas, tamanha a incerteza dos fatos;
7. A relevância de líderes na gestão de negócios e das pessoas ficou ainda mais evidenciada;
8. Convivência articulada entre a expressão “the cash is king” (o caixa é rei) e um lado mais humano, social e responsável das marcas, caracterizadas como humanalógicas, conectando propósito e pessoas;
9. Aceleração e aculturamento dos meios digitais, inclusive para pagamentos, compras e entrega;
10. Dependência cada vez maior do digital, reinvenção e ressignificação da empresa e seus negócios neste contexto;
11. Adoção de novos modelos de negócios, reinvenção e ressignificação da empresa e seus negócios neste contexto;
12. Aceleração de muitas decisões para colocar ideias em prática, sem tempo para costumeiras postergações, graças à adoção de metodologias ágeis, com equipes descentralizadas e autônomas, empregando maior velocidade na implantação de projetos nesta modalidade da cultura ágil;
13. Aprendizado mútuo entre empresas não nascidas digitais e empresas nascidas digitais, com implementação de operações logísticas, de e-commerce e delivery em prazos recordes;
14. Consumidores e profissionais adotando novos comportamentos, características, habilidade e atitudes em relação a praticamente tudo, criando um empoderamento digital de fazer as coisas acontecerem graças a um comportamento aberto a novas experiências.
15. Interações pessoais e profissionais por plataformas digitais, com muito home office, home schooling, lives e gafes, causando, muitas vezes, fadiga tecnológica.
Note que são alguns dos fatos e experiências vividas ou observadas no contexto de uma relação entre gestão e negócios, Mundo Vuca e Covid-19, de maneira a não ser novidade para você. Seja, portanto, bem-vindo ao mundo Covid-19, cada vez mais Vuca. Tais acontecimentos não tiveram início em 2020, pois já se movimentavam desde anos atrás, aberta ou ocultamente.
O que houve foi uma aceleração obrigatória e descontrolada em suas materializações, que perpetuarão por um bom tempo em 2021, 2022 e próximos anos, com velocidade maior e transformações ambulantes. Se você deseja encontrar pistas sobre como será 2021 nos negócios e em sua vida profissional, acabou de encontrar alguns de seus sinais, antecipadamente a 2021. Pode ser mais do mesmo num primeiro olhar, mas está tudo diferente e junto ao mesmo tempo agora.
balaminut | tbr | dezembro 2020
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