Há quem diga que o ano de 2022 chegará ao seu fim no Brasil neste mês de setembro, com as coisas voltando a acontecer apenas em janeiro de 2023 ou após o Carnaval, em fevereiro.
Os motivos para tanto são:
a) as eleições no Brasil, com destaque à presidencial e estadual, programadas para 2 e 30 de outubro, respectivamente, correspondendo ao primeiro e segundo turnos;
b) a Copa do Mundo Qatar 2022, programada para o período de 20 de novembro até 18 de dezembro.
Destaque-se, neste contexto, que a 14ª edição da Black Friday 2022, programada para 25 de novembro, ocorrerá, pela primeira vez, concomitantemente com a Copa do Mundo, estabelecendo perspectivas positivas para o consumo de bens duráveis.
Brincadeiras à parte, a verdade é que o mundo dos negócios não fica parado e não espera quem deseja estacionar, pois sua dinâmica é intensa e incansavelmente frenética, independente das crenças e comportamentos culturais que moldam o jeito de pensar e viver de muitos, que podem julgar os dois fatores apontados acima como neutralizadores do tempo.
Na verdade, este período que começa a contar a partir de setembro, em algumas vezes mais tardar em outubro, é o adequado para que as empresas deem início à construção de cenários, seus planejamentos e previsões orçamentárias para 2023, ainda que haja a demanda para operação em quadros de extrema imprevisibilidade, principalmente no tocante aos reflexos e efeitos que as eleições presidenciais possam causa.
Como dizia Fernando Pessoa num de seus poemas, recorrendo à frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., expressa aos marinheiros que, amedrontados, recusavam-se a viajar durante a guerra: "Navigare necesse; vivere non est necesse", em Latim, que, traduzido, corresponde a “Navegar é preciso; viver não é preciso”.
Desta forma, ainda que diante de naturais incertezas, o recomendável é um olhar apurado para o segundo semestre de 2022 acompanhado pelo rebatimento nas movimentações de peças para possibilitar a construção de um posicionamento estratégico com diretrizes norteadoras para as vias de construção de um primeiro semestre de 2023, ainda que com olhares possíveis para ampliação a um segundo semestre também de 2023.
Esperar a virada do ano, de 2022 para 2023, com o objetivo de definir o que será feito para a empresa num novo cenário é um comportamento que tende a atrasar a dinâmica de qualquer empresa, dificultando a gestão de seus negócios.
A tarefa não é fácil, mas precisa ser feita, dentro das possibilidades e considerando todos os fatores de limitação; afinal, como disse Fernando Pessoa, “navegar é preciso”.
Algumas pistas para a construção destas perspectivas estruturais e conjunturais devem considerar olhares e atenções estratégicas de uma pauta com os seguintes drivers direcionadores:
• Tecnologia;
• Digitalização;
• Presença nas redes e mídias sociais;
• Humanização no atendimento;
• Segurança psicológico para os funcionários;
• Integração de sistemas de gestão e processos de venda;
• Repensar das relações com o ambiente de trabalho considerando modelos presenciais, híbridos e completamente remotos;
• Oscilações e imprevisibilidades da economia brasileira e os impactos da economia mundial;
• Novos e adequados modelos de negócios;
• Jornada de compra do consumidor;
• Ações práticas e mensuráveis de ESG, compreendendo a) meio ambiente e sustentabilidade (environmental), b) inclusão e diversidade, por exemplo (social) e c) medidas de governança corporativa, como a transparência e ética, por exemplo (governance);
• Insegurança jurídica para estabelecimento de negócios com visão de longo prazo;
• Efeitos da crise sanitária do Covid-19 que ainda mantêm impactos nos negócios;
• Novos padrões de liderança colaborativa;
• Avanços na legislação do ambiente digital, com especial destaque à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD);
• Inteligência Artificial;
• Big Data e Analytics.
Neste cenário estão as oportunidades e ameaças, crises e venturas, enfim, situações com as quais qualquer empreendedor brasileiro está habituado a conviver.
As regras de controle de “custos e despesas” continuam mais relevantes do que nunca, independente do contexto. Deve-se, no entanto, encontrar espaço entre tais elementos para uma movimentação do termo “investimento”. Afinal, como trata aquele ditado de que “quem não gasta dinheiro não ganha dinheiro”, investir é preciso e fundamental para buscar o crescimento e desenvolvimento nos negócios.
Para o aspecto conjuntural, no sentido econômico, há um estudo interessante e fundamentado preparado por Aloisio Teixeira Salvador Werneck Viann, indicando reflexões para “Cenários Macroeconômicos no Horizonte 2022/2030”. Ele está disponível para leitura no link https://saudeamanha.fiocruz.br/wp-content/uploads/2016/07/1.pdf e apresenta cenários dentro de três perspectivas:
• Otimista e Possível (página 49);
• Pessimista e Plausível (página 51);
• Conservador e Provável (página 53).
Providencie uma leitura deste material para a construção de um repertório básico com vistas a um olhar de médio prazo, a começar com o segundo semestre de 2022, passando por 2023 e anos seguintes. Considere, neste exercício, a mesma nomenclatura para três tipos de cenários, conforme mencionados: 1 (otimista e possível), 2 (pessimista e plausível) e 3 (conservador e provável). Assim não será tomado 100% de surpresas em suas decisões.
Outro estudo interessante é o webinar “Perspectivas Econômicas para o 2º Semestre”, realizado pela Gouvêa Experience e que foi conduzida por André Sacconato e Marcelo Allain, sócios da Gouvêa Analytics.
O conteúdo deste webinar, transmitido pelo YouTube em 26 de julho de 2022, está disponível no link https://www.youtube.com/watch?v=941-S_zKf8w.
De maneira resumida, no apontamento das principais ideias apresentados no referido webinar, tanto para o cenário mundial quanto para o brasileiro, destacamos alguns deles que dizem respeito ao Brasil, em específico:
• Retomada da economia no pós-Covid;
• Juros altos deprimem mercado de bens duráveis e supérfluos;
• PEC do consumo auxiliará consumo no segundo semestre, mas sem ganhos permanentes;
• A situação das contas públicas para 2023 é composta de incertezas, em decorrência da ruptura do teto de gastos;
• O endividamento e juros altos limitam a capacidade dos consumidores retornarem às compras financiadas, demandando das empresas a necessidade de controlar, de maneira mais rigorosa, a gestão do caixa;
• 2023 será um ano de ajustes macroeconômicos (especial destaque para juros, inflação e fiscal). Caso tais ajustes sejam bem feitos, haverá abertura de espaço para retomada em 2024.
A partir destas referências, construa insights sobre cenários futuros, considerando, como destacado, o que resta do segundo semestre de 2022, um olhar para o primeiro e segundo semestres de 2023, com delineações mais esclarecedoras de um 2024, mantendo um olhar até 2030.
A tarefa é imprecisa e difícil, mas, como disse Fernando Pessoa, mais uma vez referenciado: “Navegar é preciso; viver não é preciso”.
Esteja preparado, na medida do possível, para toda e qualquer situação, previsível ou imprevisível, otimista e possível, pessimista e plausível ou conservador e provável.
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Carlos Alberto Zem é bacharel em Administração (Unimep), especialista em Administração de Marketing (INPG), Mestre em Administração (Unimep), especialista em Varejo e Mercado de Consumo (USP Esalq) e especialista em Marketing (USP Esalq). Atua também com serviços de consultoria em Marketing Estratégico. É professor universitário em instituições como PUC-Campinas, Senac – Campus Águas de São Pedro, Faculdade de Tecnologia de Piracicaba (Fatep), Universidade Anhembi-Morumbi (Campus Piracicaba) e Faculdade Pecege, além de orientar trabalhos de conclusão de cursos de MBAs da USP Esalq-Pecege.
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